sábado, 22 de janeiro de 2011

Fato


Não há como não se responsabilizar pelo acaso e pela surpresa, ou seja, por mais que tudo seja explicado o acaso e a surpresa sempre estarão a espreita para desestabilizar a pretensa paz encontrada após tudo explicado.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Ser

A Cada dia descubro mais sobre o que sou, cada gesto, cada olhar, a cada demostração do não afeto. Sou muitas, amo algumas, teimo com outras, sonho, odeio, é uma luta constante. Apesar de todos meus dilemas edifico esse ser que sou: as vezes confusa outras tão certa de tudo que nem mesmo Sartre me faria questionar sobre mim. Assim gosto de me imaginar, assim sou como um anjo torto.


canção das mulheres
Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.
Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.
Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.
Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.
Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
Que o outro sinta quanto me dóia idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.
Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''
Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.
Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.
Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.

Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.



(Lya Luft)

sábado, 22 de janeiro de 2011

Fato


Não há como não se responsabilizar pelo acaso e pela surpresa, ou seja, por mais que tudo seja explicado o acaso e a surpresa sempre estarão a espreita para desestabilizar a pretensa paz encontrada após tudo explicado.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Ser

A Cada dia descubro mais sobre o que sou, cada gesto, cada olhar, a cada demostração do não afeto. Sou muitas, amo algumas, teimo com outras, sonho, odeio, é uma luta constante. Apesar de todos meus dilemas edifico esse ser que sou: as vezes confusa outras tão certa de tudo que nem mesmo Sartre me faria questionar sobre mim. Assim gosto de me imaginar, assim sou como um anjo torto.


canção das mulheres
Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.
Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.
Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.
Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.
Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
Que o outro sinta quanto me dóia idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.
Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''
Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.
Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.
Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.

Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.



(Lya Luft)