sábado, 12 de junho de 2010

Desenrolando um sexo


Com aquela cara de homem fingindo estar interessado no papo de uma mulher apenas porque está com vontade de comê-la, com aquela cara de mulher costurando e bordando pensamentos apenas porque está a fim de ser comida por ele, cheguei, caprichei, relaxei, lembrei tudo o que tinha aprendido em Kant e Hegel, repassei toda a teoria dos quanta, a morfologia dos contos de magia de Propp, o vôo do 14-bis, cheguei e não perdoei:

-- Tem fogo?

-- Betelgeuse, que vergonha! Você podia estar mais brilhante hoje. Mas como é que você poderia com todos aqueles proctores enfristulando você? Tenho andado tão triste desde que os churros mertriaram toda a tua tenoctília...

Ela me olhou com desprezo:

-- Os warhoos tomaram o poder em Achernar, e você não fez nada?

E me atacando começou a chutar minhas canelas, que não são de ferro, como todo mundo pode imaginar.

-- Pare com isso -- falei. -- Os warhoos caíram na nossa armadilha.

Ela parou. Afastou-se. E olhou para mim.

-- A atmosfera de Achernar é fatal para os warhoos. Eles só têm dois mil anos-luz de vida -- eu gritei.

-- Mas os strelitz vão miricondar todos os prosonômios de Khandar!

Quanto mais ela gritava, jurcs, yaraconds, nelmeiam, osks, mais longe ia ficando, até que eu a via como quem vê alguém, um ponto muito lá longe no começo de um infinito corredor, alguém aí?



**montagem a partir de Catatau, de Paulo Leminski.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

sábado, 12 de junho de 2010

Desenrolando um sexo


Com aquela cara de homem fingindo estar interessado no papo de uma mulher apenas porque está com vontade de comê-la, com aquela cara de mulher costurando e bordando pensamentos apenas porque está a fim de ser comida por ele, cheguei, caprichei, relaxei, lembrei tudo o que tinha aprendido em Kant e Hegel, repassei toda a teoria dos quanta, a morfologia dos contos de magia de Propp, o vôo do 14-bis, cheguei e não perdoei:

-- Tem fogo?

-- Betelgeuse, que vergonha! Você podia estar mais brilhante hoje. Mas como é que você poderia com todos aqueles proctores enfristulando você? Tenho andado tão triste desde que os churros mertriaram toda a tua tenoctília...

Ela me olhou com desprezo:

-- Os warhoos tomaram o poder em Achernar, e você não fez nada?

E me atacando começou a chutar minhas canelas, que não são de ferro, como todo mundo pode imaginar.

-- Pare com isso -- falei. -- Os warhoos caíram na nossa armadilha.

Ela parou. Afastou-se. E olhou para mim.

-- A atmosfera de Achernar é fatal para os warhoos. Eles só têm dois mil anos-luz de vida -- eu gritei.

-- Mas os strelitz vão miricondar todos os prosonômios de Khandar!

Quanto mais ela gritava, jurcs, yaraconds, nelmeiam, osks, mais longe ia ficando, até que eu a via como quem vê alguém, um ponto muito lá longe no começo de um infinito corredor, alguém aí?



**montagem a partir de Catatau, de Paulo Leminski.

Nenhum comentário:

Postar um comentário